Um dia na vida de um Macho

Posted by Cronicas de Bebado on 21:42 in , , ,

Acordei já chutando o cachorro. Já tinha repreendido fisicamente aquele cusco para que ele não jogasse comida pra fora do prato. As três aulas com o adestrador não serviram para porra nenhuma. Agora mesmo que não me arrependo de ter deslocado a mandíbula do treinador e do cachorro. Onde já se viu ensinar para um vira lata de macho a pegar bolinha no ar, quando poderia estar ensinado coisas mais úteis como arrancar saco de vagabundo. Se eu faço isso naturalmente, por que ele não poderia fazer?
Me levantei já chateado. Fui pro bar. Com certeza lá ia encontrar meus amigos de verdade. Tonhão, Carlão, Pedrão, Sem braço, mono-bago, Orelha de Nego e toda a rapaziada mais ou menos.
Chegando lá, pedi uma gelada. Quebrei a perna da mesa e arranquei dois dentes da boca do garçom, afinal trazer cerveja quente é uma coisa que não se faz nem com seu pior inimigo. Meus amigos riam, inclusive o garçom, pois ele sabia que tava fazendo merda e merecia um corretivo. Pedi então uma pitchula de cachaça, clássica, dois dedinhos, aquela de R$ 0,30 que matou o guarda. Bebi aquele doce néctar, que me atravessou a goela e me fez sentir melhor. Pedi um maço de Derby. Mandei o Capenga pendurar a conta e fui trabalhar.
Cheguei à construção por volta de 11:30 da manhã. O capataz veio conversar comigo, pois era a quinta vez essa semana que eu chegava atrasado. Não me fiz de rogado. Olhei pro chão e achei um tijolo de 8 furos pronto pra estourar nas costas do desgraçado. É o 8º tijolo que vão descontar do meu ordenado esse mês. Fora os custos com as costelas do mesmo, os dentes do chefe e mais um fêmur que quebrei de um engraçadinho que passou em frente à construção. Tive certeza que ele estava debochando da minha cara quando ele perguntou da Av. Souza e Souza, e dei com o carrinho de mão carregado de tijolo na perna do infeliz.
Resolvi sair pro Almoço e voltei pro bar do capenga. O pessoal ainda estava lá. Reabri minha conta, pedindo uma porção de torresmo com uma dose de Bitter. Estava passando a reprise do campeonato paraibano amador série C. A conversa estava animada.
Lá pelas 3 e meia da tarde, entrou um jovem meio esquisito, de calça arroxeada e camisa florida. Isso lá é roupa que homem use. Não gosto desse tipo de gente, mas, como sou educado, ignorei o rapaz. O problema foi o infeliz indo direto mexer na TV, que passava nossa programação sagrada, e colocar na novela. O Pau comeu! Peguei a chave de roda que sempre resolve esse tipo de situação aqui e tasquei no joelho dele. Aquela calça arroxeada virou preta e o grito dele perguntando, “Por que Eu Senhor? Por que eu?” Fez a alegria da galera. O Carlão se rolava no chão de tanto rir e o mono-bago fez questão de tirar uma foto para por na parede do bar.
Resolvi voltar a trabalhar. Eram 5:15 da tarde, tinha que bater o ponto e pegar um vale pra noitada.
Voltei pro bar do Capenga, para tomar mais uma pinga e terminar meu expediente. De lá, fui pro morro, para trocar de roupa e passar uma gomalina no cabelo. Chegando à entrada do morro, parei na quitanda de esquina e comprei uma garrafa de catuaba. Hoje a noite prometia e queria estar com a marcha regulada.
Cheguei em casa bêbado e já tive que dar uns sopapos na nega, pois a janta não estava pronta. To começando a achar que ela gosta de apanhar, pois todo dia é a mesma coisa. O pior é que dessa vez, os meninos resolveram intervir. Que porra é essa de filho se metendo em relação dos pais. Bati nos seis neguinho. Pelo menos tomaram uma lição.
Tonhão já estava me esperando, encostado no meu carro, uma brasília 72, azul geladeira, roda gaúcha e vidro fume, que carinhosamente eu chamo de “sebosa”. Tocamos para o bar da dona Regina, uma semi-zona conhecida aqui na comunidade. Lá eu sou rei e poderei esquecer todos os problemas do dia.
Chegando lá encontrei toda a turma do capenga, incluindo o próprio capenga. Bêbado feito um gambá. Peguei um real e fui procurar uma boa música na jukebox, procurei aquela musica da Alcione, que ela fala do negão, e já puxei a Shirley para dançar, uma morena jambo da cor do pecado, carnuda do jeitinho que eu gosto. Comecei a dançar e a menina levou um beliscão na bunda, dada pelo filho do Valdir, aquele meu vizinho da igreja.
Não contei tempo, fechei o olho dele na porrada. O moleque foi embora chorando, gritando para todo mundo ouvir: “Meu pai vai te pegar”. Só se for depois que ele sair do hospital, pois acho que o pai tem que pagar pelos erros do filho e vou dar uns cascudos nele também.
Voltei a minha dança envolvente com a Shirley, ela sempre disse que sou muito sedutor. Acho que ela gosta do meu cheiro ou do jeito que me visto. Subi ao quarto...
...Voltei do ato, digo, quarto. Estava mais feliz e aliviado. Tonhão estava se atracando com uma gorda de bigode que eu jurava que era um homem.
Fui para casa, minha mulher toda quebrada me esperava acordada, gritando que eu tinha ido para zona. Disse que não e resolvi trocar o óleo com a nega para ver se ela parava de reclamar. Duas horas depois ela dormiu e fui tomar minha catuaba para dormir relaxado.
Dez da manhã, acordei com o despertador tocando. Lá vou eu ter um dia puxado novamente.


FIM

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