Páprica, Páprica, Páprica!

Posted by Cronicas de Bebado on 12:19 in , ,

Sou o maior produtor de páprica andina da região da Paraíba, mas como nem tudo é perfeito, sou obrigado a consumir meu estoque, pois não vendo 1/16 da minha produção.
É páprica andina no café da manhã, no lanchinho matinal, no almoço, no café da tarde, no chá das cinco, na janta e, para finalizar, como ninguém é de ferro, na ceia, para dormir de bucho cheio, tudo isso acompanhado de muito suco de páprica com açúcar.
Minha mulher me deixou, Levou as crianças, a TV, o cavalo e o cachorro, dizendo que não agüentava mais comer só páprica. E olha que ela tinha umas receitas maravilhosas de páprica ao molho, assada, frita no alho e óleo, lasanha de páprica, strogonoff de páprica, Cassoulet de páprica, carne assada de páprica, carne de soja com páprica sem a soja, Sopa de páprica e polvilho doce, além do delicioso vinho de páprica envelhecido por 18 anos, num tonel de páprica.
Assim começa minha história. A triste história de um herói do povo, que descobriu a solução pra fome no Nordeste.
Tudo começou no dia seguinte a ida de minha esposa para Quexeramobim, no interior do Ceará, berço do cidadão mais famoso da região, o internacionalmente conhecido locutor “Carro Velho”. Sentindo falta dos quitutes deliciosos a base de páprica andina de Dona Clotilde, a megera ex-esposa, tive que me virar. Me matriculei na escola de culinária de Dona Benta, pensando em buscar novas idéias para aproveitar a imensa produção de páprica encalhada. Fui expulso no segundo dia, pois a Mestre Cuca não aceitava minhas intervenções com perguntas sobre o possível uso da páprica num doce de goiaba. Isso era mais uma desilusão na minha vida, contudo, não estava disposto a desistir, iria buscar eu mesmo o conhecimento perdido da culinária da páprica moderna.
No dia seguinte, depois de um delicioso café da manhã regado a bolo de morango com páprica sem morango e chá de paprica, tive uma iluminação divina. Porque não triplicar minha produção, assim teria muito mais páprica. Já estava fazendo um financiamento pela Caixa Econômica, buscando 3 milhões para investir em meu roçado. O gerente do Banco, meu primo Oswaldo, agilizou tudo pra mim. Grande Oswaldo, mandei uma tonelada de páprica para sua casa no mesmo dia. Não sei por que a mulher dele ligou reclamando do presente. Acho que ela não gostou da embalagem. Mas tudo bem.
No mesmo mês recebi o dinheiro e já comecei a produção, comprei mais 12 hectares de terra e dei inicio a minha saga. Tinha em mente conseguir desenvolver algo revolucionário, que me tornasse conhecido como o Rei da Páprica do cangaço. Pensei em qual a maior necessidade do meu povo: Comida. Precisava acabar com a fome no mundo e para isso, investi em um laboratório de desenvolvimento de Macarrão instantâneo a base de Páprica. Seria eu o novo rei do Miojo? Com certeza iria salvar várias criancinhas famintas com meu invento e me tornar muito rico.
Após 3 anos de pesquisas e testes, cheguei a fórmula maravilhosa. Desenvolvemos uma farinha de páprica altamente concentrada, que estaria pronta após meras 3 horas de fervura e ainda com o resto da produção desenvolvemos uma ração alimentar para populações de baixa renda a base de bagaço de páprica e com sabor artificial de páprica. Seria um sucesso.
Meu próximo passo foi procurar a prefeitura para explicar os maravilhosos benefícios da páprica industrializada. Iria fornecer uma amostra grátis para os testes de degustação de qualidade para saber se encaixavam no paladar das criancinhas estudiosas e famintas do meu município. Incrivelmente elas preferiram passar fome, dizendo que nunca tinham comida nada tão ruim, nem os cachorros de rua quiseram.
Fiquei com 7 toneladas de macarrão de páprica e ração barata encalhados no meu quintal. Precisava achar um novo uso para meu maravilhoso e incompreendido produto. Voltei ao laboratório disposto a empregar um uso palpável para a imensa quantidade de páprica que estava se deteriorando em meu depósito. Depois de dois anos comendo páprica para sobreviver e devendo até minha roupa intima ao banco, resolvi descansar e fui tomar um café de páprica fumando um cigarrinho. De tanta raiva, deixei o cigarro cair em cima da minha calça. Como não tinha nada para apagar o fogo, joguei páprica moída, que estava num tonel ao meu lado, em cima da chepa.
Acordei 5 dias depois, no hospital local. Os médicos disseram que foi um milagre eu ter escapado da explosão. Havia descoberto um explosivo mais potente que Nitroglicerina concentrada. Estava ai minha chance de ficar rico. Ia vender esta merda a tudo que é pedreira e facção terrorista do mundo.
Infelizmente, nem tudo são flores na vida de um produtor de páprica. Nesses 5 dias em que eu estava desacordado, o banco executou minha hipoteca, leiloou minha fazenda e inacreditavelmente quem comprou meu espolio da minha ex-mulher. Que encontrando minhas anotações, iniciou uma venda gigantesca para os paises Árabes, se tornando Bilhardária e me processou exigindo a pensão das crianças.
Hoje, vivo na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. Para onde me convidarem, eu vou. Desde que tenham um bom cafezinho a base de páprica para satisfazer meu vicio.

Na crônica de hoje vimos a triste história de um jovem empresário nordestino, que apesar de parecer engraçada, é a realidade dos grandes empreendedores que não ouvem corretamente os conselhos de suas esposas megeras. Isso serve de lição, para que no futuro próximo, você ouça mais sua esposa e não fique com idéias idiotas a base de páprica.

FIM...(Pausa Dramática)... Ronaldo!

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